Momentos em Família

Wednesday, July 05, 2006

Mentores

Estive pensando sobre o que as empresas chamam hoje de Mentoring. Deixando o lado corporativo de lado voltei à infância à procura de mentores, pessoas cujas ações, palavras ou conselhos fizeram com que eu me tornasse a pessoa que sou hoje.
Imediatamente me lembrei de meus pais, pessoas que muito me ensinaram ao longo desses anos. Muito da minha personalidade, crenças e ações, refletidas fortemente no meu trabalho, vêm de seus exemplos.
Meu pai sempre fez questão de mostrar a importância do raciocínio lógico, da concentração e da eficiência no trabalho. Não diretamente com essas palavras, mas com as histórias que contava do seu dia a dia no Banco do Brasil, em meados das décadas de 80 e 90. Fazia compensações mais rápido que ninguém e conseguia isso por ter um senso de realização muito forte; via números em tudo, queria bater sempre o recorde anterior, seja em maior quantidade de itens processados ou menor tempo total de execução. Hoje quando estou à procura de indicadores para um novo processo criado no trabalho, penso: o que meu pai buscaria obter como realização caso tivesse que executar esta atividade? E não pensem que sua busca era somente por quantidade, pois o poder de concentração era tanto que tornava os processos praticamente à prova de erros, o que tornava a qualidade do trabalho entregue altíssima. Lembro-me de um comentário seu a respeito de uma diferença ocorrida no caixa em determinada ocasião, posição que ocupou por ininterruptos cinco anos. Esta foi a única ocorrência durante todo este tempo na função e o mais interessante é que, como teve dúvida, contou cinco vezes as mesmas notas e todas as contagens mostraram o mesmo valor, que no final da tarde comprovava-se estar incorreto. Quer maior garantia de acerto do que checar cinco vezes o resultado? Parece que uma força maior estava dizendo: “não é possível que esse cara vai passar cinco anos sem nenhum centavo de diferença!”. Uma frase dele que levo sempre comigo é “Em tudo o que for fazer seja o melhor”. Não necessariamente melhor que os outros, mas procure dar o melhor de si em tudo o que se dispuser a fazer.
Quanto à minha mãe, eterna estudante, está sempre em busca de novos conhecimentos e aprendizado. Dificilmente lhe faltava um livro, lia desde assuntos técnicos relacionados à lingüística, novos procedimentos e gestão de recursos humanos na época do Banco do Brasil, a romances diversos. Sempre vivi rodeado de livros e me arrependo de ter lido pouco na infância e adolescência, quando tempo era algo que não me faltava. Com ela aprendi a importância da disciplina. Como professora teve a possibilidade de conhecer diferentes tipos de alunos e de entender as diferentes personalidades humanas, bem como formas de motivação. Lembro-me bem de uma de suas frases: “Disciplina e força de vontade são mais importantes que inteligência”. Diz isso de coração, pois vivenciou alunos de todos os tipos e teve o prazer de ver o quão longe alguém pode chegar quando há determinação. Por outro lado, há também a tristeza de reconhecer a existência de um grande potencial não aproveitado, pois suas palavras não conseguiram gerar a motivação necessária para tirar o aluno da inércia.
Aprendi com ela a reconhecer que nunca se sabe o bastante. Se uma fórmula já está dominada, aprenda outra, pois a vida é feita de aprendizado contínuo (o que se chama hoje nas empresas de Long Life Learning) e que as pessoas começam a envelhecer mentalmente quando acreditam que o que sabem é suficiente para o resto de suas vidas.
Obrigado a vocês, meus pais, por esses ensinamentos, que, mesmo que eu não perceba, moldam as minhas ações a cada minuto com o mundo exterior.
Islan de Castro Gomes

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