Momentos em Família

Thursday, August 31, 2006

Falta Pouco

Estamos entrando no trimestre final da gravidez. A Luísa já está com massa e comprimento superiores a 1 Kg e 30 cm, respectivamente. O mais fascinante é saber que ela já percebe a luz, acorda e dorme como todos nós, reconhece nossas vozes, assim como o batimento cardíaco da mãe, e reage a estímulos. Se nascesse hoje sua chance de sobrevivência seria superior a 90%. Mas esperamos que, diferente de mim, ela fique por lá por mais algumas semanas. Dizem que nós homens não suportaríamos esta experiência, desde as mudanças hormonais, no início, à dor do parto, no final. Esta afirmação deve realmente ser verdadeira, dados os medos e apreensões que nos acometem a cada doença, por mais simples que seja.
A natureza é realmente sábia, o vínculo mãe e filho começa muito antes do pai se dar conta de que uma nova vida realmente está por vir. Pois, como acredito que aconteça com muitos pais, após o momento inicial da descoberta, e conseqüente euforia, a calmaria toma conta, como se tudo não passasse de apenas um conto de fadas. E somente vamos nos dar conta de que em pouco tempo a família terá um novo integrante no final da gravidez (muitos somente na semana do nascimento, acreditem!). Por isso invejo as mães, pois por mais que tentem nos explicar, jamais saberemos o que é gerar um filho, perceber seu crescimento (ainda no útero), seus pequenos movimentos...
Li há alguns dias uma frase que resume isso muito bem: “Uma mulher grávida nunca está sozinha, ela tem sempre a presença de seu filho e companheiro”.

Monday, August 14, 2006

Histórias da avó Ana

Ontem pedi à avó Ana que contasse uma história. Na minha infância costumava passar os finais de semana em sua casa e, antes de dormir, sempre pedia a ela que nos presenteasse com alguma história. Imaginei que ela teria disposição para contar uma ou duas somente, mas, para minha surpresa, foram seis ou sete histórias, em quase duas horas, sem interrupções. O Dudu não tirou os olhos da velhinha e mostrou-se bastante interessado, o que para mim também foi uma surpresa, pois a maioria das crianças de hoje em dia, além de não dar muito valor a coisas simples como essa, dificilmente tem sua paciência e atenção mantidas por tanto tempo. Até mesmo a reação da Bruna foi surpreendente, pois manteve os olhos fixos na bisavó durante os primeiros cinco minutos (o que, convenhamos, é bastante para uma criança de pouco mais de 3 anos), como se tentasse entender o que estava acontecendo. Me espantei com o nível de detalhes e com a surpreendente memória da avó Ana, pois até as frases prontas, faladas por personagens, ela recordou. Minha mãe conta que a ajudava quando vendia roupas pelas ruas de Cornélio Procópio, anotando para ela tudo o que foi vendido, para quem e se havia ou não algum pagamento pendente. O espantoso é que essas anotações ocorriam somente às sextas-feiras à noite, quando a vó ia dizendo, desde a segunda-feira de manhã, os lugares em que passou e o que vendeu. Eu, por exemplo, costumo fazer anotações dos gastos pessoais, mas, se deixar de atualizar a planilha por mais de dois dias, já não consigo me lembrar de tudo, imagine se o fizesse só uma vez por semana...
Para mim o dia de ontem foi mágico, uma verdadeira viagem no tempo, pois fazia ao menos vinte anos que não ouvia as histórias da avó Ana, que consegue contá-las exatamente da mesma forma, apesar de seus quase 81 anos. Fico imaginando a idade destas histórias, pois as mesmas foram contadas a ela quando criança por uma senhora de idade, também chamada Ana. Somente a última de ontem, sobre dois irmãos italianos, foi contada por seu pai, no início da década de 30.
Quando saímos me despedi, agradeci pelo tempo conosco e, para minha alegria, ouvi dela a seguinte frase: “Vou pensar em outras histórias para domingo que vem”. Que bom. Dizem que algumas coisas não voltam mais, pois eu acredito que sim, resta a nós saber detectá-las e dar a elas nova vida.