Momentos em Família

Monday, July 31, 2006

Fim de Semana

Tivemos um fim de semana agitado. Já na sexta-feira jantamos com o Dar e a Joeliza, seus pais tinham viajado e ela ficou a tarde toda com Bruninha (que inveja!). Comemos pastel e tomamos vinho branco. A conversa variou desde marketing de fraldas descartáveis ao calor de 40º no Piauí (não vou entrar em detalhes de um comentário do Dar sobre a situação de um sujeito de terno naquele forno!). No sábado saímos cedo, compramos algumas coisas no Total e almoçamos no Água Verde, à espera da seção das 13:50, onde assistiríamos ao desenho Sem Floresta. A atenção da Bruna às cenas e seus comentários são imperdíveis. Em determinado momento do filme um carrinho cheio de coisas levanta vôo e atravessa uma casa ao meio, a Bruninha olha com espanto e diz: “Hi, acho que dituíu!”. À tardezinha a Bel foi em casa para mostrar as três opções que tinha feito do quarto da Bruna. Foi incrível, imaginamos que ela nada entenderia daqueles desenhos. Porém, além da planta baixa, a Bel trouxe também um desenho 3D feito a mão de cada uma das opções, a Bruna logo escolheu a que mais lhe agradou e ponto final. E como ela saía a toda hora para brincar com seu quebra-cabeça, imaginamos que esqueceria fácil, e que, da próxima vez que voltasse, iria escolher outro desenho sem perceber. Que nada, ela sabia exatamente o que queria, e não bastava trocar os desenhos de lugar imaginando que poderíamos enganá-la. À noite decidimos ficar em casa e pedimos uma Pizza. Por volta das dez e meia minha mãe ligou de Ribeirão Preto (no final de semana anterior foi aniversário de 90 anos da avó Zulmira, pena que não pudemos ir, a distância era muito grande para apenas dois dias) dizendo que meu pai estava com febre e sugeriu que eu o levasse ao pronto-socorro. A consulta foi rápida, o médico receitou um antibiótico e um antitérmico. Quando eu estava me arrumando para sair, a Jô disse o que o médico iria receitar e os acertou até no nome, os quais nem me lembro mais quais eram (poderíamos ter evitado a saída naquela noite de inverno, mas vai saber...). No domingo de manhã ele me ligou dizendo que minha mãe iria antecipar o vôo de São Paulo pra cá e chegaria ao meio-dia. Como havíamos combinado dele almoçar conosco, os dois vieram, fizemos churrasco e ficamos ouvindo uns CDs de MPB que minha mãe comprou em Araraquara. Dentre alguns livros que ela trouxe havia um de lingüística com um diálogo mineiro muito engraçado, com palavras como sapassado, midipipoca, kidicarne e outras mais. Por volta das cinco, quando pensei que passaríamos o resto do domingo em casa, a Bel ligou nos convidando para tomar café, e lá fomos nós ao São Lourenço. Falamos principalmente sobre viagens e vimos as fotos que tiramos em Gramado, no inverno de 2000, a primeira viagem que fizemos juntos. O Emerson irá para a China na próxima sexta-feira e está bastante empolgado com oportunidade de experimentar uns petiscos de gafanhoto. Por volta das sete e meia o celular da Jô tocou, era o pai dela dizendo que haviam chegado e estavam sem chave. Saímos correndo e, quando chegamos, os dois estavam encorujados dentro do carro. Saíram com aquela cara de sono. Bem, para um fim de semana em que a temperatura deve ter oscilado entre 6 e 15 graus, até que foi realmente agitado.

Sunday, July 23, 2006

Chutinho da Luísa


Ontem senti pela primeira vez o chutinho da Luísa. Nos últimos dias a Jô vinha tentando me mostrar, mas confesso que não consegui percebê-los. Ontem foi diferente, ela me deixou a clara mensagem: “estou aqui papai”. Desde o dia 06 de abril, quando tivemos certeza da gravidez, várias fases já se passaram. A euforia inicial com a vinda de um novo bebê, o susto, após termos descoberto que o embrião estava muito próximo do colo do útero (e a necessidade de repouso quase absoluto), as opiniões diversas quanto ao sexo do bebê, a descoberta que teríamos outra menina e, agora, seus pequenos movimentos. Todas elas tiveram momentos marcantes. Eu tinha uma intuição de que seria menina, primeiro por que sonhei que teria duas filhas e acreditava realmente que isso aconteceria e, segundo, por ter percebido em uma das ecografias anteriores. Nada comentei para não deixar a médica constrangida, pois ainda não era momento de se saber o sexo. Porém, a mais interessante foi a ecografia seguinte, a Bruninha iria conosco e havia grande chance de descobrirmos definitivamente o sexo. Ela tinha tal convicção de que seria Felipe, que reagiu impulsivamente quando o médico disse que seria menina e perguntou seu nome para registrar no slide. Por várias vezes a Bruninha disse: “Não, é menino, não é menina, é Felipe!”. O médico, surpreso, e ao mesmo tempo encantado, não conseguiu conter o riso. É surpreendente perceber o movimento de uma vida dentro do ventre da mãe. Melhor ainda é saber que em poucas semanas teremos um bebezinho lindo conosco, e que estarei quase de férias!

Thursday, July 06, 2006

Obrigado Silvinha

Contigo aprendi que no fim as coisas sempre dão certo. Planos a longo prazo? Se não temos certeza do que vai acontecer daqui a algumas semanas de quê adianta planejar as coisas para daqui a 5 anos? Tome atitudes com base naquilo que está acontecendo à sua frente e dê o melhor de si. A busca da felicidade está nas pequenas coisas, em enfrentar uma turma de alunos e dialogar com eles, deixá-los expressarem o que sentem, mexer com sua auto-estima. Em sala de aula o mais importante é instigar a dúvida nas crianças, deixá-las curiosas com o assunto e orgulhosas em saber que sua opinião tem importância, que não há somente uma pessoa lá na frente, detentora de todo o conhecimento, o qual deve somente ser transmitido à turma, sem alma, sem alegria. Nunca deixe alguém se sentir inferior ou usar de alguma característica sua com este fim, de modo à nunca obter o melhor de si naquilo que faz, uma vez que outras pessoas podem fazê-lo mais facilmente. Nunca me esqueço da história que contou sobre uma menina que não possui os dois braços. Com certeza ela tem motivos suficientes para se afastar dos outros, ser totalmente dependente e infeliz por sua condição. Do que ela precisa? De alguém que faça tudo para ela? Que lhe digam, mesmo que através de ações, deixe comigo, pois você não é capaz? Essa é a mensagem que ela deve receber? NÃO. Ninguém melhor que você para mostrar ao mundo que esta é a última coisa que deve ser feita, pois mostrar amor às pessoas muitas vezes significa deixá-las superar suas próprias frustrações, tentar, mesmo que com grande dificuldade, fazer as coisas de sua maneira. Não tenho dúvidas que isso as torna mais feliz, com grande senso de realização e auto-estima elevada.
Obrigado por esses ensinamentos: 1) deixe as coisas acontecerem e dê o melhor de si ao longo da vida, pois viver a jornada é mais importante que atingir o objetivo final e 2) dê às pessoas o que elas precisam, o que não necessariamente significa o que elas querem naquele momento.

Wednesday, July 05, 2006

Mentores

Estive pensando sobre o que as empresas chamam hoje de Mentoring. Deixando o lado corporativo de lado voltei à infância à procura de mentores, pessoas cujas ações, palavras ou conselhos fizeram com que eu me tornasse a pessoa que sou hoje.
Imediatamente me lembrei de meus pais, pessoas que muito me ensinaram ao longo desses anos. Muito da minha personalidade, crenças e ações, refletidas fortemente no meu trabalho, vêm de seus exemplos.
Meu pai sempre fez questão de mostrar a importância do raciocínio lógico, da concentração e da eficiência no trabalho. Não diretamente com essas palavras, mas com as histórias que contava do seu dia a dia no Banco do Brasil, em meados das décadas de 80 e 90. Fazia compensações mais rápido que ninguém e conseguia isso por ter um senso de realização muito forte; via números em tudo, queria bater sempre o recorde anterior, seja em maior quantidade de itens processados ou menor tempo total de execução. Hoje quando estou à procura de indicadores para um novo processo criado no trabalho, penso: o que meu pai buscaria obter como realização caso tivesse que executar esta atividade? E não pensem que sua busca era somente por quantidade, pois o poder de concentração era tanto que tornava os processos praticamente à prova de erros, o que tornava a qualidade do trabalho entregue altíssima. Lembro-me de um comentário seu a respeito de uma diferença ocorrida no caixa em determinada ocasião, posição que ocupou por ininterruptos cinco anos. Esta foi a única ocorrência durante todo este tempo na função e o mais interessante é que, como teve dúvida, contou cinco vezes as mesmas notas e todas as contagens mostraram o mesmo valor, que no final da tarde comprovava-se estar incorreto. Quer maior garantia de acerto do que checar cinco vezes o resultado? Parece que uma força maior estava dizendo: “não é possível que esse cara vai passar cinco anos sem nenhum centavo de diferença!”. Uma frase dele que levo sempre comigo é “Em tudo o que for fazer seja o melhor”. Não necessariamente melhor que os outros, mas procure dar o melhor de si em tudo o que se dispuser a fazer.
Quanto à minha mãe, eterna estudante, está sempre em busca de novos conhecimentos e aprendizado. Dificilmente lhe faltava um livro, lia desde assuntos técnicos relacionados à lingüística, novos procedimentos e gestão de recursos humanos na época do Banco do Brasil, a romances diversos. Sempre vivi rodeado de livros e me arrependo de ter lido pouco na infância e adolescência, quando tempo era algo que não me faltava. Com ela aprendi a importância da disciplina. Como professora teve a possibilidade de conhecer diferentes tipos de alunos e de entender as diferentes personalidades humanas, bem como formas de motivação. Lembro-me bem de uma de suas frases: “Disciplina e força de vontade são mais importantes que inteligência”. Diz isso de coração, pois vivenciou alunos de todos os tipos e teve o prazer de ver o quão longe alguém pode chegar quando há determinação. Por outro lado, há também a tristeza de reconhecer a existência de um grande potencial não aproveitado, pois suas palavras não conseguiram gerar a motivação necessária para tirar o aluno da inércia.
Aprendi com ela a reconhecer que nunca se sabe o bastante. Se uma fórmula já está dominada, aprenda outra, pois a vida é feita de aprendizado contínuo (o que se chama hoje nas empresas de Long Life Learning) e que as pessoas começam a envelhecer mentalmente quando acreditam que o que sabem é suficiente para o resto de suas vidas.
Obrigado a vocês, meus pais, por esses ensinamentos, que, mesmo que eu não perceba, moldam as minhas ações a cada minuto com o mundo exterior.
Islan de Castro Gomes

Nascimento Bruna (16-abr-03)


Era pouco mais de 4 da manhã, a Jô me acordou dizendo que tinha dores a cada 20 minutos e desde as 2:30 que não dormia. E eu, com o sono pesado de sempre, nem havia percebido. Levantamos rápido e nos arrumamos para ir ao hospital. No banheiro, a Jô avisa que a bolsa havia rompido, mais um sinal de que devíamos sair o mais rápido possível.
Chegando ao HSC fomos rapidamente encaminhados à médica de plantão (Dra. Adriana), o exame mostrou 2 cm de dilatação, havendo necessidade de internamento. Neste momento, por volta das 6, liguei para a Tritec e para minha mãe, avisando que estávamos no hospital e que a Bruna nasceria naquele dia (fiquei sabendo horas depois que fizeram um cartaz na Tritec dizendo: “A filha do Islan vai nascer hoje”, para que todos que chegassem no escritório soubessem da novidade). A médica (Dra. Marta) chegou no quarto às 7:30, a dilatação já estava em 4 cm e a bolsa rompeu totalmente, sendo necessário trocar a roupa de cama. Ela comentou que havia grande chance de ser parto normal, desde que houvesse encaixe rápido do bebê e a Jô não estivesse sentindo dores muito fortes. Com isso, teríamos que esperar até o momento certo para o parto, que deveria ocorrer após o meio-dia. No entanto, após sua saída, as dores começaram a se intensificar, as contrações ocorriam a cada 4 ou 5 minutos e duravam quase 60 segundos. Pouco antes das 9 horas encaminhamos a Jô para o Centro Obstétrico (sua mãe e eu estávamos aflitos por ver seu estado e nada podermos fazer).
Fiquei esperando do lado de fora enquanto a Rose ficou no quarto rezando pela filha e pela neta, os poucos minutos ali fora pareceram horas. Enquanto esperava conheci outro pai, na mesma angústia que eu, porém um pouco mais calmo, pois já era seu segundo filho. Nos deram umas folhas para assinar, obrigatória para quem vai assistir ao parto (no meu caso poderia ser assistir o parto), e pediram que aguardássemos. Em 20 minutos ele foi chamado para entrar no vestiário, se trocar e ficar pronto, a cesariana seria realizada em poucos instantes. Pouco depois também fui chamado, a enfermeira me pediu que entrasse para ficar ao lado da mãe, pois o parto ainda iria demorar um pouco para começar. Lá dentro, ao ver a Jô após a aplicação da anestesia, fiquei mais calmo, o anestesista nos transmitiu segurança e tranqüilidade. Havia controle de pressão e batimento cardíaco da Jô e da Bruna, o qual pudemos ouvir todo o tempo. Às vezes o aparelho se soltava, mas bastava um toque da Jô com a mão e voltávamos a ouvir, o que para nós era uma melodia, o batimento constante nos mantinha tranqüilos.
A Dra. Marta chegou próximo das 10:30, após examinar disse para nos prepararmos, iria chamar a pediatra e a enfermeira e iniciar o parto o mais rápido possível. Neste momento senti algo difícil de explicar, percebi que estava mais nervoso que a Jô e não sabia qual seria minha reação no momento em que minha filha estivesse prestes a vir ao mundo.
Enfim tudo estava preparado, os campos cirúrgicos nos seus devidos lugares, a obstetra a postos, a pediatra esperando o momento de entrar em ação e o anestesista observando se seria necessária uma dose adicional de morfina. Dito e feito, ao fazer força para expulsar o bebê a Jô sentiu dores fortes, o anestesista mostrou pra que veio e reiniciamos. Para ajudar a Jô segurava suas costas com a mão direita e empurrava o bebê para baixo com a esquerda, afinal tinha grande parte da culpa e não poderia ficar só olhando num momento como aquele. O anestesista ajudava com o antebraço sobre a barriga da Jô, achei a força que fazia exagerada, mas nos disseram que era normal e ajudaria a expulsar o bebê. Após algumas tentativas sem sucesso finalmente a Bruna nasceu, é difícil explicar o que senti naquele momento, ao ver minha filha a meio metro de mim, ainda com o cordão umbilical intacto e movendo rapidamente braços e pernas (o cordão dava duas voltas em torno de seu pescoço, o que necessitou técnica da obstetra para retirar o bebê). Devido à demora no corte do cordão a Bruna demorou a chorar, o que deixou a Jô em pânico, pois imaginou que ela estivesse desmaiada. Eu, como estava maravilhado com a cena e vendo que o bebê estava bem, nem percebi sua preocupação. Após o corte do cordão e, enfim, choro da Bruna, a Jô suspirou aliviada, a obstetra entregou o bebê à pediatra que iniciou seu trabalho. Como não poderia deixar de ser colei na médica para ver o que iria acontecer com minha filha. Ela pesou e mediu o bebê (a Bruna nasceu com 2800 g e 48 cm) e colocou uma sonda em suas vias nasais (uma espécie de mangueira bem fina de uns 30 cm de comprimento). Sabia que não gostaria de ver aquela cena, mas estava incluída no pacote. Para meu espanto, em seguida, a médica colocou a Bruna em meus braços: “Toma que o filho é teu”. Peguei-a com cuidado, ela estava envolta em um campo cirúrgico verde escuro, inchada, chorando, manchada de sangue e maravilhosamente linda! Andei em direção à Jô e encostei o rosto da Bruna em seu ombro, que parou repentinamente de chorar (não tenho dúvidas de que ela sabia que estava nos braços da mãe). Em seguida a enfermeira bateu uma foto nossa e devolvemos a Bruna à pediatra, lhe foram aplicadas duas injeções (lembro ainda que perguntei o que eram, ela respondeu, mas não lhe dei ouvidos, estava fascinado com o que estava acontecendo). Enquanto limpavam a Bruna com algodão úmido fui até o berçário, onde há separação com a parte externa apenas por uma parede de vidro, à procura da minha sogra para lhe dar sinal de que tudo havia corrido bem. Apesar de vê-la do outro lado ela não notou minha presença, andava de um lado para outro preocupada, e não adiantava gritar pois não seria ouvido. Foi então que me dirigi à porta onde os enfermeiros entram com os bebês (cuja passagem é proibida), abri e chamei por ela, disse que o parto tinha corrido bem. Ela me perguntou como estava a Bruna e apontei para a mesa onde a estavam limpando, poucos metros atrás de mim, ela estava olhando em nossa direção com os olhos totalmente abertos. A Rose, que com certeza não esperava vê-la naquele momento, caiu em prantos e me abraçou (jamais vou esquecer aquele momento).
Fechei a porta (a qual não poderia ter aberto) e acompanhei a Bruna até o berçário, ela foi colocada em um daqueles berços aquecidos, onde ficaria por mais ou menos uma hora e meia até poder tomar banho. Voltei à sala onde houve o parto e fiquei ao lado da Jô até o término do trabalho da obstetra. Ela teria de ficar em observação por aproximadamente uma hora em outra sala, na qual eu não poderia entrar. Troquei de roupa e saí, ficamos olhando a Bruna através do vidro por algum tempo enquanto outra família de aproximadamente 10 pessoas estourava champagne e tomava Whisky, à espera do novo membro da família, também menina.
Retornamos ao quarto e logo fomos chamados, pois a Jô já estava liberada. O encontro mãe e filha neste momento foi algo que tive o prazer de presenciar. Não tenho dúvidas de que este foi o dia mais emocionante de minha vida, difícil colocar em palavras tudo o que senti, mais difícil ainda é explicar a dimensão do amor que sinto por esta menina, cuja existência sou totalmente responsável. Sei que presenciei um momento mágico e hoje sei o que significa uma frase que ouvi há algum tempo: “Você só vai saber o que é ter um filho quando segurar o seu nos braços”.
Islan de Castro Gomes